08.02.10
Alunos de escolinha rural de Trajano de Moraes, treinados com peças recicladas, tornaram-se tetracampeões estaduais de xadrez
O xadrez representa a luta entre os exércitos de dois reinos, no qual um deles deve capturar o rei adversário. Quem dá a lição é o professor de Educação Física e de Português Nilton César Riguetti. Em 2004, Nilton decidiu ensinar as jogadas, que culminam em xeque-mate, na Escola Estadual Maria Mendonça, localizada em uma área rural do município de Trajano de Moraes, Região Serrana do Rio. Poucos meses depois, a equipe da escola conquistou a primeira das quatro vitórias nos Jogos Estudantis da Educação Pública (as Olimpíadas do Estado do Rio de Janeiro) na modalidade xadrez. E isso treinando apenas com peças e tabuleiros reciclados.
“Foi um fato marcante para todos nós. A maioria das crianças sequer conhecia a Cidade do Rio de Janeiro e nos anos seguintes jogamos até no Complexo do Maracanã”, comemora o instrutor tetracampeão.
A E.E. Maria Mendonça tem apenas 85 alunos e acesso por sete quilômetros de estrada de terra. São apenas cinco salas e a paisagem ao redor é agrícola. O que motivou o professor Nilton foi “a vontade de fazer diferente e fazer mais”, em suas palavras. Por isso, nas aulas de Educação Física resolveu diversificar as atividades com a prática de mineiro-pau (uma famosa dança folclórica da região), tênis de mesa, peteca e xadrez. Mas, com a grande adesão e os recursos escassos, começou a faltar material para ensinar. A solução foi lançar um desafio: os alunos deveriam inventar peças de xadrez com material reciclado.
“Várias ideias surgiram. Confeccionamos os tabuleiros em papel cartolina, pintados com lápis de cera, e dezenas de peças com tampinhas de garrafa pet. Elas nem se assemelhavam às peças originais. Apenas estabelecemos uma convenção para chamar esta ou aquela pelos nomes correspondentes”, conta Nilton.
Os praticantes de xadrez são alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, com idades entre 11 e 17 anos. Mesmo os que não gostam são incentivados a participar. Ou, então, devem escolher outras atividades. Quando as quatro atividades são oferecidas no mesmo bimestre, os alunos devem escolher três. Desta forma, nem todos optam por xadrez. O fato é que, depois das vitórias e do reconhecimento da Câmara Municipal, do prefeito e das reportagens nos Jornais O Dia e O Globo, a motivação aumentou.
“Existe a vontade. Já no início do ano, os alunos se fazem uma cobrança: participar dos Jogos. Isto requer treino e disputa interna, pois seleciono só 24 entre mais de 80. Assim, eles se concentram ainda mais, já que o nível é alto e é preciso jogar muito para conquistar uma vaga. Não temos problemas de indisciplina e o xadrez pode ter uma parcela nisso”, acredita o professor.
Hoje há tabuleiros suficientes para treinar todos os alunos, já que a Prefeitura apoia o projeto. A Câmara de Vereadores também ajuda, entregando uma "Menção Honrosa" a cada conquista. Além disso, classificou o Clube de Xadrez Trajano de Moraes - fundado para dar sequência ao projeto, já que os alunos paravam de jogar ao concluir o 9º ano - como Utilidade Pública Municipal. Recentemente, de uma parceria com a estatal Furnas, surgiu o Telecentro Comunitário, um espaço com internet via satélite grátis para toda população da zona rural. No último dia 7 de fevereiro, os 24 alunos que disputaram os jogos em 2009 receberam um kit escolar doado por uma papelaria de Nova Friburgo.
“Também estamos conquistando novas parcerias para fortalecer o projeto”, avisa Nilton, que divulga o trabalho em seu próprio blog: http://niltonriguetti.blogspot.com/.
O xadrez na Educação tem um papel muito importante, sobretudo por desenvolver a capacidade de concentração dos alunos. Também aguça o raciocínio lógico e leva-os a tomar decisões entre uma série de possibilidades. Algumas jogadas são decisivas, como na vida.
“Se você tomar uma decisão errada, o jogo pode estar perdido. Também ocorre o contrário: você erra, mas as circunstâncias do jogo permitem que você se recupere e vença o jogo, ainda que as probabilidades sejam pequenas. Tem uma frase famosa que repito para eles quando estão prestes a perder e querem desistir: ‘O jogo só acaba quando termina’”, ensina o instrutor.
No caso do projeto da E.E. Maria Mendonça, outro ganho foi observado: com as vitórias, a autoestima dos alunos melhorou sensivelmente. Hoje, todos os praticantes querem ser campeões e lutam por isso com o apoio dos pais, que são levados aos jogos para vê-los jogar, perder ou ganhar.
“Quando os alunos passaram a ser recebidos pelo prefeito e a sair na imprensa local e depois na grande mídia, os pais se sentiram honrados e orgulhosos dos filhos”, conclui, satisfeito, o professor Nilton Riguetti.
A E.E. Maria Mendonça tem apenas 85 alunos e acesso por sete quilômetros de estrada de terra. São apenas cinco salas e a paisagem ao redor é agrícola. O que motivou o professor Nilton foi “a vontade de fazer diferente e fazer mais”, em suas palavras. Por isso, nas aulas de Educação Física resolveu diversificar as atividades com a prática de mineiro-pau (uma famosa dança folclórica da região), tênis de mesa, peteca e xadrez. Mas, com a grande adesão e os recursos escassos, começou a faltar material para ensinar. A solução foi lançar um desafio: os alunos deveriam inventar peças de xadrez com material reciclado.
“Várias ideias surgiram. Confeccionamos os tabuleiros em papel cartolina, pintados com lápis de cera, e dezenas de peças com tampinhas de garrafa pet. Elas nem se assemelhavam às peças originais. Apenas estabelecemos uma convenção para chamar esta ou aquela pelos nomes correspondentes”, conta Nilton.
Os praticantes de xadrez são alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, com idades entre 11 e 17 anos. Mesmo os que não gostam são incentivados a participar. Ou, então, devem escolher outras atividades. Quando as quatro atividades são oferecidas no mesmo bimestre, os alunos devem escolher três. Desta forma, nem todos optam por xadrez. O fato é que, depois das vitórias e do reconhecimento da Câmara Municipal, do prefeito e das reportagens nos Jornais O Dia e O Globo, a motivação aumentou.
“Existe a vontade. Já no início do ano, os alunos se fazem uma cobrança: participar dos Jogos. Isto requer treino e disputa interna, pois seleciono só 24 entre mais de 80. Assim, eles se concentram ainda mais, já que o nível é alto e é preciso jogar muito para conquistar uma vaga. Não temos problemas de indisciplina e o xadrez pode ter uma parcela nisso”, acredita o professor.
Hoje há tabuleiros suficientes para treinar todos os alunos, já que a Prefeitura apoia o projeto. A Câmara de Vereadores também ajuda, entregando uma "Menção Honrosa" a cada conquista. Além disso, classificou o Clube de Xadrez Trajano de Moraes - fundado para dar sequência ao projeto, já que os alunos paravam de jogar ao concluir o 9º ano - como Utilidade Pública Municipal. Recentemente, de uma parceria com a estatal Furnas, surgiu o Telecentro Comunitário, um espaço com internet via satélite grátis para toda população da zona rural. No último dia 7 de fevereiro, os 24 alunos que disputaram os jogos em 2009 receberam um kit escolar doado por uma papelaria de Nova Friburgo.
“Também estamos conquistando novas parcerias para fortalecer o projeto”, avisa Nilton, que divulga o trabalho em seu próprio blog: http://niltonriguetti.blogspot.com/.
O valor pedagógico do xadrez
O xadrez na Educação tem um papel muito importante, sobretudo por desenvolver a capacidade de concentração dos alunos. Também aguça o raciocínio lógico e leva-os a tomar decisões entre uma série de possibilidades. Algumas jogadas são decisivas, como na vida.
“Se você tomar uma decisão errada, o jogo pode estar perdido. Também ocorre o contrário: você erra, mas as circunstâncias do jogo permitem que você se recupere e vença o jogo, ainda que as probabilidades sejam pequenas. Tem uma frase famosa que repito para eles quando estão prestes a perder e querem desistir: ‘O jogo só acaba quando termina’”, ensina o instrutor.
No caso do projeto da E.E. Maria Mendonça, outro ganho foi observado: com as vitórias, a autoestima dos alunos melhorou sensivelmente. Hoje, todos os praticantes querem ser campeões e lutam por isso com o apoio dos pais, que são levados aos jogos para vê-los jogar, perder ou ganhar.
“Quando os alunos passaram a ser recebidos pelo prefeito e a sair na imprensa local e depois na grande mídia, os pais se sentiram honrados e orgulhosos dos filhos”, conclui, satisfeito, o professor Nilton Riguetti.